HEMORRAGIA-MORAL

Hoje, na condução, um homem maltratado vestindo farrapos me fez sentar no corredor oposto do dele (eu sentei porque senti medo de ser roubado. Ele não me fez nada). Tatuagem no pescoço, como que saído de uma organização subterrânea daquelas que confabulam em bares de becos escuros de cidades grandes; rosto cansado numa cabeça de cabelos secos demais e uma corcunda ecoando um ‘S’, assustador e pulsante, em veias que logo seriam artrites mal cuidadas numas costas mais grossas que casco de tartaruga. Tive medo e não tirei o celular do bolso. Instantes depois, um garoto surgiu na cena. Uniforme de escola particular, relógio exuberante, mochila de marca, óculos de grau e de olhar distraído.

O garoto senta ao lado do homem.

Ele me dá um soco sem mão na boca do estômago e uma hemorragia-moral começa dentro de mim.

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