NO MANICÔMIO

Duas mulheres, psicologicamente comprometidas com a insanidade, brincam no pátio soturno de um manicômio tradicional. Elas falam com seres ao redor e baba forma-se nos cantos dos lábios delas, lubrificando beiços que, de tão rachados, parecem necessitar cuspir alguma secreção. O jogo é o da criação. Cada uma sentencia a realidade imediata da outra. "Tem um lagarto dentro do seu intestino e ele tá abrindo caminho", diz uma delas, apontando o indicador direito para a colega de quarto e, no mesmo devaneio, escancara a boca e os olhos, feito quem tem uma brilhante ideia. A louca que recebe a notícia do lagarto em sua barriga se curva na mesma hora, e isso lembra um feitiço que é arremessado sobre alguém. Esta última parece sentir as primeiras dores dos primeiros movimentos do animal lá dentro. No impulso de levantar o rosto, porém, ela já traz a resposta fatídica que vai comprometer o prédio inteiro onde reside o manicômio. "E você não pode tirar os pés do chão! Acabou de pisar numa mina de explosivos e vai pros ares tudo aqui se sair desse lugarzinho aí, sua maldita!" – diz, a que começa a se retorcer pelas dores de um lagarto se movimentando dentro dela.

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